Por quê ficamos inadimplentes? A ciência responde

Atualmente, cerca de 60 milhões de brasileiros estão endividados.

É fácil imaginar os impactos negativos que o endividamento produz, tanto do ponto de vista individual do cidadão como dos reflexos que esse endividamento gera para a economia do país.

Ao analisar a possibilidade de um cidadão se tornar inadimplente, as empresas de análise observam basicamente fatores demográficos e econômicos.

No entanto, a ciência tem mostrado que os perfis psicológico e comportamental do indivíduo são também importantes.

Este artigo repercute o trabalho “Psicologia do Risco de Crédito: Análise de Fatores Comportamentais que Influenciam o Endividamento dos Indivíduos”.

Esse trabalho foi desenvolvido pelos pesquisadores Mateus Ferraz Prado, Pablo Rogers Silva, Dany Rogers Silva e Kárem Cristina de Sousa Ribeiro, todos da Universidade Federal de Uberlândia, e publicado no XL Encontro da ANPAD – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, realizado em setembro de 2016.

O estudo buscou basicamente determinar a influência de fatores psicológicos e comportamentais na determinação do risco de crédito dos indivíduos, medido como a probabilidade da instituição que está concedendo não receber do tomador do crédito os valores acordados dentro do prazo e das condições negociadas.

Para isso, os pesquisadores desenvolveram e aplicaram um questionário de 147 perguntas, coletando ao final da aplicação informações de 847 indivíduos.

A partir desses dados, um modelo de previsão, através de uma função de regressão, foi proposto e validado, com o objetivo de determinar a possibilidade de inadimplência do indivíduo, a partir de valores representativos de variáveis psicológicas e comportamentais.

Como resultados, o estudo mostrou a relação direta de alguns desses fatores com o risco de crédito dos indivíduos, como se segue:

1. Significado do dinheiro

Sabemos que pessoas diferentes percebem o dinheiro, e seu impacto, de formas diferentes.

Algumas acreditam no seu poder positivo, como meio de produção de liberdade, tranquilidade, paz.

Outras pessoas nutrem sentimentos extremamente negativos em relação ao dinheiro, materializados em crenças do tipo: “O dinheiro não traz felicidade”, “As pessoas ricas são desonestas”, “O dinheiro é a raiz do mal”, “Só os pobres entrarão no Céu”, entre outras.

O estudo mostrou que essas crenças negativas estão diretamente relacionadas ao maior risco de crédito do indivíduo.

Ou seja, pessoas que percebem o dinheiro de forma mais negativa têm maior possibilidade de ficarem inadimplentes em suas dívidas.

2. Autoeficácia

A autoeficácia busca analisar a percepção que o indivíduo possui sobre sua própria capacidade de planejar e executar tarefas, com o objetivo de gerar alguma consequência desejada.

Os resultados do estudo mostraram que maiores valores de autoeficácia estão associados ao maior risco de crédito.

Assim, pessoas que acreditam mais fortemente em sua capacidade de planejar e executar atividades, tendem a ficar mais endividadas.

3. Comportamento de compras compulsivas

Cada participante do estudo foi classificado em um de dois grupos: “comprador compulsivo” ou “comprador normal”.

O modelo desenvolvido no estudo mostrou relação entre o comportamento de compras compulsivas e uma maior probabilidade de inadimplência.

4. Horizonte de tempo

O tempo considerado pelos participantes do estudo para o planejamento de despesas e poupança foi avaliado e dimensionado.

Descobriu-se assim uma relação inversa entre esse horizonte de tempo considerado para o planejamento financeiro e o risco de crédito.

Ou seja, individuais que trabalham com planejamento de mais longo prazo tem menos risco de crédito.

5. Educação financeira

Os participantes do estudo que realizavam controle de suas receitas e despesas apresentaram menores chances de inadimplência.

6. Autocontrole

Alguns os fatores de autocontrole, especialmente o consumo de bebidas alcoólicas, tiveram relação direta com o risco de crédito dom indivíduo.

Logo, os indivíduos com mais dificuldade de autocontrole tendem a se tornar mais endividadas.

7. Otimismo

O estudo mostrou ainda que indivíduos mais otimistas apresentaram menor risco de crédito.

Em suma, o estudo descrito neste artigo mostra que fatores psicológicos e comportamentais podem influenciar a possibilidade de o indivíduo se tornar inadimplente.

E você, em relação à esses fatores, como se classificaria?

Jerffeson Teixeira de Souza, Ph.D.
Fundador e Editor do Blog “Meu Educador Financeiro”

 

Um comentário

  1. Já posso afirmar que hoje estou bem mais saudável financeiramente com a ajuda desse blog e de vlogs também. Comecei a controlar as finanças e estou saindo das dividas.

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